terça-feira, 4 de abril de 2017

Tratado de Tordesilhas

Um passo pra trás e não existem verdades
Só perspectivas de camadas sobre camadas de realidade
Que se confundem e se espremem nos nossos
Vícios mais ignorantes

Vou ver a vida vazando
Enquanto vagueio vadio
Atolado de memórias e histórias
Responsabilidades e vulnerabilidades
Afogado em ser e estar
To be or not to be

Razoavelmente ou radicalmente
Me despi das razões pois são outras mentiras
Que contamos a nós mesmos
Enquanto buscamos justificar a verdade

A verdade não precisa de justificativa
É e pronto
Ser ou não ser
É porque é
E se ninguém a conhece
Continua sendo

Razões pra viver como todo mundo
Esperando salvar o planeta ou comprar sem sentir dor
Inventar alguma coisa nova
E sucessivamente acumular vitórias seguidas

Ser a verdade
Não ser de verdade
A verdade que não é
Sem razão
O que os olhos veem e o coração não sente

O coração sente o peso desses anos estranhos
Dessas mágoas disfarçadas de memórias
E dessas memórias disfarçadas de deja vus
A realidade sempre distinta e objetivamente mais obscura e mais real
Como se todo pulo pudesse me matar
E eu sentisse medo do pulo

Suicída
Covarde
Ou corajoso

Eu continuo
Crendo cegamente que sou um
Moto perpétuo
Tal que a energia
Nunca acaba

Eu sei que é mentira

Mas eu minto pra mim quando reconheço a escuridão ardida da realidade
E sou bom contador de história
E me fascino com minhas próprias fantasias

Quando é noite é tarde
Quando é dia
É tarde

É sempre tarde e eu acredito em coisas que sei que não existem

O mundo me julga
E eu me finjo surpreso

Quem me julga? Por quê? O que aconteceu?

O que aconteceu aqui?

Me acostumei com os juízes
E seus martelos
E suas sentenças
De plena e pura verdade transparente

A verdade é sempre transparente

E some

E eu já nem ligo mais

Finjo que não é comigo

A realidade que vejo já me comprime com força
Não preciso fazer esforço para procurar a verdade

Pois eu sei
Que toda ela
É invisível