sábado, 2 de dezembro de 2017

Se todas as vezes que eu dissesse a verdade, você me ouvisse...

irrelevante era a palavra que eu tinha adotado como base da minha existência
tudo era um pouco irrelevante
um pouco ou plenamente
pouco fazia sentido e efetivamente tudo era irrelevante

irrelevante era a palavra
e isso me fazia frio e insensível
irrelevante e não importava a importância
o que quer que fosse pouco era mais que irrelevante

há tempos eu escolhia que tudo haveria de ser intenso
daí as coisas ficaram deveras intensas
e não há nada de romântico em uma bomba atômica
logo nada supria essa necessidade de intensidade

nada é intenso o suficiente
enquanto a premissa é a auto suficiência por rombos maiores
pelo caos que transborda e inunda
enxurrada de humanidade em um curto espaço de tempo

mas nada é assim
nada é intenso a ponto de mudar o eixo de rotação da Terra
nado no ar como se fosse denso a ponto de me afogar
agonizo em indiferença e irrelevância

falta ar pra todas as viagens inter atlânticas que eu quero fazer
e fico comigo nesse mesmo e curioso centro de gravidade
girando nos calcanhares pra encontrar o amor da minha vida
ou o carro que por mera ocasião me atropela e me tira a vida

falta qualquer coisa pra ser alguma coisa
e normalmente só falta
e as coisas acabam como os dias e as noites
com hora marcada pra começo e fim

irrelevante é a palavra
que se repete como cd riscado
que volta em si mesma
e se prova inútil como todo o resto

irrelevante e o mundo segue pleno
pleno e plano e bola de neve
um passo ar e outro passo
ar e a irrelevância e mais um passo
ar de novo e o mundo segue
um passo atrás do outro
e um suspiro mais longo que o anterior

ar e irrelevância
e a minha vontade de ser Deus
mais fraca que o meu desejo de
deixar de existir

passo a passo
na proposta mais nova
murmúrio indeciso
indiferente e indefeso
um mundo melhor
longe de mim
uma pessoa melhor
longe do mundo