sábado, 26 de dezembro de 2020

Arabescos

senti uma coceira nos braços
e cocei e cocei e cocei
até que eu me dei o trabalho de olhar
a vastidão da vermelhidão
só que nenhum vermelho
me tingia ali

arabescos se desenhavam em
linhas marrons por todo o meu corpo
e minha pele começou a contar histórias
que nunca foram minhas

cocei os olhos achando que era truque da luz
ou a lente secando    o sol confundindo    a vida sumindo
e a história passou a fazer parte de mim
como um milhão de livros de contos
que eu jamais pensaria em escrever

de repente tudo era novo e velho ao mesmo tempo
minha pele descolando dos braços enrugados
eu aceno pra um garoto de mochila nas costas
meus braços balançam no ar como o pêndulo de um relógio
eu lacrimejo de saudades e o menino entra em um carro
eu lavo as lágrimas que caem

e quando abro os olhos uma mão gigante me acaricia
e um rosto de uma mulher gigante me sorri com amabilidade
eu sinto o cheiro e o amor dela
pego um dos dedos com as duas mãos e aperto com força
a mulher me dá uma chupeta e eu durmo um sono longo e sem sonhos

acordo com o braço coçando
os arabescos que não são minha história se dissolvem
em vermelhidão abrupta
o sangue escorre dos rastros que minhas unhas fizeram

eu olho o relógio
e o tempo parou

até o próximo minuto
                                    chegar