segunda-feira, 22 de novembro de 2021

A fama de alguém invisível e todas as vezes que eu quis ser nada

pode vir que eu tô pronto
espero como para raio em um dia de sol
meus dedos se esticam como os de um mágico que confunde seu truque
espero como o alarme de tsunami numa praia calma

as palavras vem mas só vem as palavras
soltas como pedras que navegam o espaço
puxadas de astro a outro sem nunca acertar nenhum deles

os dias seguem comuns e meu corpo segue em movimento
bailando enquanto flechas e adagas e dardos me usam como alvo
me deixando com cortes aqui e ali que ignoro concentrado no próximo passo

um temporal de ocasiões multilaterais que me atropelam
toda vez que eu respiro e lembro quem sou e o que sou e o que faço aqui

danço sozinho
que sempre foi meu jeito preferido de dançar

no escuro barulhento
na obsessiva embriaguez alcóolatra
que funciona bem como óleo nas juntas
desse homem de lata enferrujado

eu que fui negando as ambições todos os dias
me sinto ambicioso demais e eu preciso me segurar
pra não acabar com essa ambição achando que estou me educando
achando que aprender a não cair é aprender a não me machucar

entre um passo rápido e outro eu rebolo e 
"você rebola muito bem pra um hétero"
e isso nem é o pior de mim

que eu guardei num baú dourado sem chaves
mas que eu não abro
porque eu aprendi outras maneiras de ser

não sei se é verdade
mas às vezes eu acho
que me quero
de verdade