terça-feira, 18 de novembro de 2025

O horror de amanhã ser mais um dia e a felicidade de acordar de novo

as palavras estão borbulhando
como se eu fosse obrigado a expor
sair daqui de dentro
mostrar pro universo
uma explosão de metáforas

e quem precisa de um poeta
senão o poeta
das próprias palavras
que saem
porque ficam presas nos cantos dos olhos
preso na garganta como grito contido

preso como se as paredes
que tanto amo
e chamo de casa
parecem masmorra
e as palavras essas borbulham

será que eu achei que podia me esconder por muito mais tempo?

meus olhos não aguentam as lágrimas que seguram
como se essas palavras presas viessem em água
e todos esses músculos segurando isso tudo
como se fita crepe
tentasse fazer segura
uma barragem fissurada

mas eram só palavras
sem poesia
sem poeta
sem moral nem história
sem prosa nem texto nem vida
só palavras e sentimentos grossos e com nome
porque antes disso tudo
nenhum sentimento tinha nome
e agora tudo tem nome
e eu me afundo nessas palavras

palavras substantivo
angústia
medo
pavor
anseio
ansiedade
felicidade
esperança
alegria
amor
catástrofe
catarse
estrofe
vazia
palavras
substantivo

e eu aparecendo pro mundo
e sorrindo
e vendendo
e saindo de uma muralha
e que saudades da muralha
e que saudades da muralha
e que saudades da muralha
e
que
saudades
da
mu
ra
lha