sábado, 2 de abril de 2016

Dialética, retórica e introversão

As palavras já não saem mais. De nenhum jeito. Não há receita que as tirem daqui. Ficam girando numa massa espessa, se esbarrando e me fazendo me entender. O atrito das letras gerando ruídos harmônicos e desarmônicos, atiçando os meus olhos nas cores que vejo e as minhas narinas com os odores que inspiro. Indefinido, me conheço cada vez mais. Me reconheço só. Ninguém me lê. Ninguém me entende. Porque as palavras não formam orações, mas cânticos primitivos. Os nossos deuses já não são os mesmos. As nossas ideias não são mais as mesmas. Eu não digo. Me guardo. Penso em suicídio mais vezes do que me sinto ótimo. Mas estou bem. As palavras me confortam. Girando como uma estrela, confinando e consumindo combustível num centro gravitacional. O som da estrela girando, como um coração pulsando, como asas batendo, como o ronronar de um gato. Me deito, inspiro, expiro. As palavras me confortam, mas eu não sei escrever.