sexta-feira, 22 de abril de 2016

Alógica

A avaliação do cenário, aplicada sob metodologia que se embasa na neutralidade, é clara: catástrofe. Sol, suor, vento, chuva e frio. Em um suspiro tão breve quanto um ano inteiro de fantasias, ou quatro meses. O planeta inteiro em  ritmo de halloween. Cada um com a sua, uma mais diferente da outra. Existem as geniais, as criativas, as ofensivas e as de sexy shop. E as mais profundas verdades, tornam-se fantasia. A realidade é uma fantasia que eu simplesmente não aguento. Fujo. Procuro outras realidades. Vivo viajando por mundos de fantasias.
Oscilo e balanço. Mesmo sem música, há música. O cenário muda, aos poucos, bem poucos. Os atos se demoram. A Terra me puxa para dentro, como se a natureza me quisesse dentro dela. Do ventre da minha mãe, para o ventre da Mãe Natureza. Numa queda orgânica e grotesca, que começa em uma corrida entre espermatozoides, ou mais cedo, na produção daquele espermatozoide daquele dia, ou do óvulo daquele mês, ou ainda mais cedo desde o início da vida na Terra, findando em uma reciclagem de componentes. Manufatura, produto, vida útil, lixo.
O que fazemos com o nosso lixo? A vida útil dos nossos produtos é longa o suficiente para que não se produza lixo sobre lixo? O lixo depende exatamente da vida útil? Existem coisas vivas que são lixos? Lixos orgânicos, vivos, opressores ou oprimidos?
Me pergunto qual o propósito dessas perguntas aleatórias. Não paro de me perguntar as coisas. É que a gravidade é tão pesada que sobra tempo para se pensar. O tempo vai embora. Vai como quem vira fantasma. Some para sempre. Não deixa nada senão saudades vazias e insignificantes, a longo prazo. Não sei se o tempo que se foi está melhor sem mim. Me subjugo. O jogo de perguntas e respostas sempre me subjugam. Sempre eu na pior escala, só assim eu entendo os lados. Quero entender tudo e todos. Mas não me entendo. Falta tempo.
E muito sinceramente, nem o quero mais, o tempo. Por mim, deixava de existir. E o conceito de tempo se extinguiria como as obrigações básicas da vida. Viveria como um animal, fazendo o básico por necessidade. E eu me conheço, ficaria cada vez mais só e introvertido. Minha vida seria dedicada ao exclusivo esforço mental. E muito provavelmente, entenderia tudo que temos o privilégio de não saber. A ignorância como privilégio forma seres bonitos e saudáveis. Ou não tão saudáveis. Quem me dera fosse saudável.
Catástrofe. Nem cabe mais pensar em solução. Nem a fama e o sucesso, nem o suicídio, me parecem propostas formalmente adequadas. E sou só quebra de decoro, formalidades dispensadas no tratar de absolutamente tudo, mas a lógica da situação pede precaução, no mínimo. Raízes mimadas, tronco rebelde, galhos frágeis. O vento me leva. A correnteza me leva. O tempo me leva. E a gravidade me deixa aqui, presa por orgulho, comprimindo todos os meus valores e me obrigando a contínua, incansável e, inerentemente, humilhante autoavaliação. O cenário é de catástrofe.
E a fantasia de que o mundo vai acabar ainda parece fazer parte dos pelos que nos nascem dos braços.