quarta-feira, 3 de agosto de 2016

A atualidade da história, a extinção do agora e o imediatismo do futuro distante

sinceramente
não gostaria
de ir pra
frente

sinceramente
não gostaria
de me mover
nem
um
centímetro

mas a maré
do mar de gentes
me leva
para lá
e para cá

me afundando em suas próprias
ondas
tomo um longo fôlego
e me satisfaço
boiando
de lá
para cá

sem mais que o esforço necessário
a corrente me leva
e eu participo
e sou mais uma pequena
e fundamental
e substituível
molécula
que dá corpo
à sociedade

o mundo evolui
rápido
demais

e eu assisto tudo isso
com meus próprios olhos
e eu compreendo
o significado
de História

sinceramente
eu não quero participar
dessa sociedade

sinceramente
eu não quero
mudar o mundo
nem vê-lo mudar
nem coisas velhas
nem novas
nem pouca coisa qualquer

sinceramente
eu boio
e a correnteza me leva
e os humanos já não são
mais os mesmos
as relaçoes
e a economia
e a política
e as cidades
e as culturas
e as tecnologias
não são mais
as mesmas

eu não sou o mesmo faz tempo
eu não quero ser
e sou

os anos estão passando mais rápido?
o futuro parece agora
mais um segundo
que significa muita coisa
pra construçao da
humanidade

é o tempo
de eu observar
as texturas
do vidro
com os olhos fixos
até que uma onda
me leve para cima
ou para baixo
e faça de mim
um ser humano melhor
ou
pior