quinta-feira, 12 de julho de 2018

Heresia

entrava na sala saltitante como o Peter Pan
com minhas orelhas de gatinho no meu chapéu vermelho aveludado
como o próprio demônio que leva Cristo à cruz
e me pergunto onde encontrei essa minha prepotência

como se o filho de Deus e eu mesmo tivéssemos
qualquer tipo de vínculo
exceto ao universal fato de que
ele me ama

visto a barba e o cabelo comprido como um novo Jesus
que vem trazer à Terra a paciência que tanto lhe falta
exagero no vinho e defendo todas as drogas
sem nunca exaltar o baseado recém bolado

a cocaína não é a minha planta
mas chega uma hora em que a gente percebe que cada um
tem a sua preferência de sabores e experiências
as aventuras que nos convém certamente são as mais importantes

e certas vezes outras coisas além de uma golfada de atmosfera
fazem parte dessa nova e aviltante novidade
o mundo revolucionando de novo e uma nova perspectiva
de qualquer coisa ou de como elas funcionam

as coisas funcionam melhor que as vontades de Deus
ou do Capeta

pois queria que o demônio tivesse um nome tão respeitoso quanto o de Deus

eu o compreenderia com mais facilidade e talvez a vida fosse mais agradável
mais aprezível
e por fim mais respeitosa

o fim do mundo chegou e só me resta respeitá-lo

fim como fim
com um novo horizonte
fogos de artifício e é primeiro de janeiro no meio de julho

a gente começa uma novidade
que de nova só tem os dias que se seguem
quentes e frios e irreverentes e insubstantes
uma nova geração de gerações

pois aposto que já escrevi isso
afinal os dedos são viciados
o corpo é viciado
eu quero o que eu quiser

me pinto de demônio
e vestido de vermelho
me sinto bem melhor
assim