segunda-feira, 18 de julho de 2022

Começou sem querer, mas uma hora tinha que acabar

Começou com um peixe, que se dispôs a enfrentar marés turbulentas a fim de chegar logo ali.
Começou com uma estrofe sem sentido que se voltava nela toda vez que o cérebro perdia atenção.
Começou com um lugar que era o mesmo lugar de sempre com as mesmas bordas arredondadas.
Começou com uma explosão que primeiro implodiu tão forte que não havia mais nada.
Começou num parágrafo que contava uma história que era escura como um breu.

Mas nunca terminou.

Começou de novo.
Porque a gente é novo e bate a cara no chão e os sonhos se estilhaçam como fogos de artifícios que contam pra todo mundo - com toda a alegria e cores que os fogos tem - que há um fracassado caído ali.
E depois do fracasso parece que é tudo mais fácil.
Não tem sonho, nem regra, só um tempo vazio.
E a gente vai enchendo esse vazio com coisas que a gente acha que vale a pena encher.
E uma hora explode.
E a gente começa de novo.
Porque a gente não é mais novo. E parece que a gente pode escolher um pulo cada vez menor pra chamar de sucesso. E os pulinhos nunca derrubam e os fogos de artifício não dizem mais que há um fracassado ali. Mesmo que haja.

Começa com um sorriso e acaba com uma lágrima. Começa com uma dança e acaba com um surto. Começa com amor e acaba com ódio. Começa com orgasmo e acaba com repulsa. Começa com orgulho e acaba vazio. O fracasso é inevitável.

Começou com um par de olhos que sorriam para os meus.
Começou com umas sete voltas embriagadas em uma rotatória.
Começou com eles namorando e eu aqui balançando as perninhas no balanço muito alto do parquinho.
Começou com traição antes de fidelidade. Começou com promessas.
Começou com uma tristeza que era pequena como a cabeça de um alfinete e ela sugava tudo a sua volta como um buraco negro. Um pontinho no espaço capaz de abarcar toda a existência do universo.
Começou com um volto logo.

Nunca terminou.
As coisas acabam.
Mas nunca terminam.
Sempre começa de novo.