segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Foda-se o mundo, cale a boca e tira essa tua roupa ridícula

Era infeliz, como todas as mulheres da idade dela. As mulheres simplesmente não conseguem morrer felizes. Não sei quanto aos homens, pois todos que conheci morreram antes de completar cinquenta. Mas mulheres, conheci algumas. Metade delas eram ótimas amantes, outra metade só vivia a infelicidade que era ser uma mulher curitibana. A idade, para os homens, representa sapiência, para as mulheres, decadência. E lá estava eu com aquela mulher infeliz e boa de cama num hotel barato no centro da cidade.
- Conte-me sobre você.
- Não tenho o que te contar.
- Fale, por favor...
- Eu sou formada em Artes Visuais, fiz pela diversão, pela maconha, pelo bem da geração hippie. Depois me formei em Administração, logo em seguida Direito. Quando era jovem, me apaixonei pelo meu melhor amigo, ele era lindo, tinha cabelos um pouco compridos e não tinha medo de ninguém. Um dia ele me pediu em casamento. Logo descobri que ele também tinha pedido outra mulher em casamento...
- Que filho da puta.
- É o amor, eu entendo...
- Que amor... - Ela era loira, mas uns fios brancos de cabelo se escondiam no amarelo opáco.
- Daí ele foi morar com ela, perdemos contato. Ele sumiu do mapa. Eu me casei com um político corrupto, interesse da família. Tenho um menino.
- É divorciada?
- Meu filho não ia aguentar um divórcio.
- Quantos anos ele tem?
- Doze.
- Qual é o nome dele?
- Thomas. - Ela estava nua. Ela era tão branca que as veias verdes e azuis saltavam dos seus seios assimétricos. Deve ter sido a garota mais bela que o mundo já viu. Mas as belezas acabam e a vida acaba. O mundo acaba.
- Nome bonito.
- Eu sei.
- E o que você está fazendo aqui?
- Transando com você. Acho que é pra isso que te pago.
- Você se importa de eu conversar com você?
- Claro que não. É a única pessoa que eu converso.
- Não tem amigos?
- Thomas acabou com todas as amizades. Vivo sozinha desde então.
- Ser mãe é complicado. Priva a vida social.
- Não, não o meu filho. Thomas, o filho da puta.
- Quem?
- O que me pediu em casamento.
- E onde ele tá?
- Morreu. Se matou assim que a esposa fez um aborto e fugiu com todo o dinheiro que ele herdou do pai.
- Era bastante?
- Bastante.
- Que merda...
- Se ele tivesse casado comigo estariamos em casa agora. Talvez transando na cozinha, ou talvez viajando pro Caribe numa terceira lua de mel. Ou estariamos cuidando do nosso terceiro e lindo filho. - Eu quase sentia uma lágrima se formando nos olhos azuis claros dela. Mas ela era tão triste que suas feições não mudaram.
- É, você seria mais feliz.
- Foda-se. Eu não teria meu filho. Eu amo Thomas.
- É, tudo tem seu lado bom.
- Foda-se o mundo, cale a boca e tira essa tua roupa ridícula.