quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Morte

Do lado do cemitério, havia um bar.
Bar do Cemitério, se chamava.
Abria depois que o cemitério fechava,
Em respeito aos falecidos
E aos familiares dos falecidos.
É que os falecidos tinham que ficar perto de seus túmulos
Esperando que seus familiares
Os viessem visitar.
Depois do expediente,
Todo mundo para o Bar
Do Cemitério.

O Bar enchia logo de cara.
E gritaria, jogos de carta e uma sinuquinha.
Cerveja barata e doses de pinga pros gente boas.
Eu tava passando e resolvi entrar.
Sentei no bar e pedi
"Me vê uma Skol"

Era duas da manhã
E eu tava bem bêbado.
Eu só olhava para as garrafas da parede do bar,
Nunca para as pessoas.
De algum modo,
Eu sabia que estavam todos mortos.
Do meu lado, senta uma mulher.
Eu sabia que era mulher pelo cheiro.
Um perfume gostoso, de mulher.
Viro para o lado e era um vulto.

"Oi",
O vulto disse.
Com uma voz rouca
Sensual.

"Oi... Garçon, me vê um copo prá ela"
Eu respondi.
Com um pouco de medo.

"Não bebo cerveja. Carlito, me vê duas tequilas.
Na minha conta."
Ela disse.

"Porra, Morte. Você nunca me paga!"
Carlito brincou.

"Mas te deixo vivo!"

"Por conta da casa, meu amor..."
E sorriu para o vulto.

Bebemos a tequila
E de repente
Ela tinha tirado aquele
"Vulto"
Era alta, vestia uma blusa decotada preta
Os seios saltavam para fora.
De microsaia, também preta,
Esbanjava pernas deliciosas.
Era branca como a neve
E seus lábios eram vermelhos,
Naturalmente vermelhos.

"Vamos para a minha casa, Thomas?"
Mordeu os lábios.

"A vida é bela, Morte."

"E eu?"

"Você é uma delicia..."

"Eu sei!"
Ela ria gostosamente
"Hahahaha!"
Mordia os lábios
E esfregava a perna em mim.

"Mais uma, por minha conta?"

"Não estou afim."

"Ok. Garçon, me vê a conta."
Sorri para a morte,
Beijei-a no rosto
E disse:
"Até a próxima."

E sai do bar,
Chutando uma pinha
Até o meu apartamento
No centro da cidade.