sábado, 20 de agosto de 2011

Um último suspiro

Já escrevi algumas vezes que algo morreu dentro de mim, há muito tempo. E eu vivo como um zumbi, literalmente, mas sem comer cérebro de ninguém. Ando morto pelas ruas e deito morto na minha cama e espero o dia que eu realmente morra por completo. As vezes me sinto especial, um jeito horrível de pessoa especial. O tipo que está morto enquanto a sociedade vive e come e engorda e transa e ama todos os dias. Enquanto eu estou morto e morando no meio de toda essa vida. Mas eu sei que todo mundo morreu há muito tempo. Algumas pessoas são tão vivas e tão felizes que parece que algo está errado. Elas encontraram a vida e elas são realmente especiais.
Eu morri há muito tempo. E dias atrás, eu vivi durante longas horas. Respirei e senti e eu sabia que estava vivo. Viver é a pior desgraça que pode acontecer com um homem de mente fraca, como eu. Era tão bom e eu me senti tão vivo. E eu sabia que logo ia morrer novamente. Ninguém vive por muito tempo. As coisas são rápidas demais e não dá tempo nem de a gente pensar. Nós estamos presos numa gaiola enquanto Deus se diverte com os nossos altos e baixos. Ou melhor, nosso alto e a nossa rotina. E eu morri. De novo. Apodrecendo e fedendo e perguntando qual é a vantagem de viver, senão querer viver mais e querer sentir mais e querer ser feliz. Eu me sinto viciado e só quero viver. E a sapiência, que há muito não dava ares da sua existência dentro da minha cabeça morta e cansada, me disse: "Você está triste, pois sentiu que ainda está vivo. Você sentiu que ainda pode amar e sentir alguma coisa." E dos meus olhos, lágrimas pesadas e salgadas, parecendo um oceano vertical e tão claro quanto a água mais limpa e mais pura, rolavam nas minhas bochechas magras e se depositavam nos cantos da minha boca vazia e carente. Eu vivi. E morri. E não consigo acordar e ver algum sentido na vida, senão vivê-la. E tento acreditar que há vida após a morte. Mas logo eu me sinto velho e cansado e meus ossos doem e meu peito vazio já não quer ser incomodado.