sexta-feira, 1 de setembro de 2017

Saturação

o dia era cinza
todo cinza
tinha cores de cinza
e cheiros de cinza
os sons eram cinzas
e tudo que meu corpo tocava
também

quando ficasse noite
será cinza também
apenas mais escuro
mas carente de qualquer
outra cor ou espectro
ou entidade que não seja
cinza

me pergunto se as pessoas estão cinzas
afinal não as vi em nenhum momento
mas as ouço de longe enquanto as ruas
fazem o som do mar distante
águas cinzas de espumas cinzentas

tento lembrar do que veio antes
pra tentar supor o que pode vir depois
mas minhas memórias também tem a mesma cor
e de cor julgo que não posso julgar
a cor do mundo não convence minha retina
meus ouvidos dóem como minhas pernas e
tudo parece cinza de novo

de novo
um eterno e repetitivo de novo
cinza e escuro de novo
a galinha
ou o ovo
tudo cinza
suas penas
e sua casca
os seus órgãos
e sua clara e sua gema
vivendo a eterna dúvida
será que o azul que você vê
é o mesmo azul que eu vejo?

o meu também é cinza

eu toco o céu

ele se desfaz
e cai leve e gentil
com a gravidade