segunda-feira, 13 de novembro de 2017

A poesia de um homem que desapareceu

eu vivendo comigo
nesse relacionamento abusivo
me sentindo pior e tentando
e me deixando pior
mas tentando

me enforco enquanto penso
em mim
me agrido em palavras
e depois em promessas
e logo estou preso pra sempre
amarrado na cama
e sentindo fome

sem parar de pensar
em mim

me convencendo o
que é amor
e quanto ele vale
na balança
nada é mais lucrativo
que ficar
sozinho

mas dependo de mim
eu de mim mesmo
eu mesmo de mim
sou todo mesmo e
todo eu
feito pra mim
e por mim

meu cérebro não me deixa
em paz
me subjugo
me irrito
me condeno

meu pensamento
logo acaba no fim do mundo
e passa por toda a desgraça antes
do ponto de exclamação

FIM!

e nunca acaba

só nós dois grudados
como animais que brigam
ao se acasalar
eu e eu mesmo
nos seduzindo e nos matando
toda vez que o relógio
marca mais um
segundo

uma tortura diferente para cada ideia mal colocada
um sentimento extremo para cada fio de meada
perdido e deslocado
perdido e deslocado
perdido
em nós dois

quando pouco ou nada importa
senão a si
e eu fervo inconsciente
pisco os olhos e não sei que dia é hoje
minhas responsabilidades
sendo devoradas
pelo calendário
e eu sujo e torturado
cheiro de tudo que não convém
descrever

pisco mais vezes
pra ver se consigo chorar
me enforco de novo
e me grito

ENGOLE ESSE CHORO!

me abraço com medo
me beijo assustado
me amo de novo

hoje é um dia novo
e eu sei disso

imploro perdão

me tira daqui

te amo pra sempre

me abraço de novo

sai da minha vida

isso é pra sempre

o fim do mundo de novo
e tudo que vem antes
um conflito de cada vez
até que a vida me diga
se há algo de novo