sábado, 18 de novembro de 2017

Se você não pode ter o que quer, pode me ter

a vida virou toda sensação
e tudo traz o máximo de mim
enquanto eu entendo que
eu poderia muito bem
estar disfarçado
e invisível
e insensível

sensação
uma atrás da outra
um troco errado ou um sorriso
um empurrão ou uma trombada

a sensação de estar sozinho em um mar de humanos
e todos eles indo pra cima e pra baixo como ondas
enquanto eu me preocupo com os tubarões que sei que não existem
mas eu sou bem isso
uma pergunta mais rápida que a resposta anterior
e um passo atrás por segurança
um mundo de plástico por humanos de verdade
e eu com um lança chamas pra me precaver
que nada disso é natural

as lágrimas que vazam dos olhos
antes da tristeza ou do rancor ou do que quer que traga lágrimas aos olhos
e vazam como torneiras pingando
água quente que atravessa as minhas bochechas
e se esconde dentro dos pelos da barba como um filho que se enrola com sua mãe

sem realidade
nem fantasia
mas esse meio termo maluco de coisas diferentes
e luzes diferentes
e pessoas que eu não sei quem são

eles não sabem quem eu sou
e isso me veste de uma armadura dourada
como se ouro fosse tão duro quanto fosse necessário

eu brilho
como uma estrela que morre

até que tudo apaga
e vira noite

a madrugada é a melhor amiga de quem tem medo da luz

pois as lágrimas formadas
logo perdem sentido
e tudo vira lógica e poesia
enquanto ela desce lenta e inconsciente

o amor como pedras que caem do céu
e o futuro como fábricas fora da cidade
raios e trovões de agora e daqui a pouco
e nem um sinal que ano que vem será melhor

às vezes você percebe que o coração está vivo
e de vez em quando não parece mais que uma
luminária que pisca em curto circuito
piscando vivo e piscando morto
alternando certo e errado por convenção

isso é amor
e eu tô nessa
dentro demais
desse coração

três e meia e eu nem sei o que é café da manhã
dois minutos e eu já estou num dia novo
mas hoje ainda não acaba e isso fica eterno
como todo o amor que a gente promete

isso é cegueira
muita segurança
pra muito fogo
e muito incêndio

minha vida regulada
nessa irregularidade
que sobe e desce quantas vezes você quiser

montanha russa
sem diversão

só medo

e sede
e fome
e as cores estranhas que me fazem estranho
e o arroz com ovo toda vez que nada dá certo

parece que nunca dá certo

bem rápido
eu não perco tempo
jogo fora
como se fosse open bar

cuspo em cima
pra ter certeza que esse tempo largado
não foi oferenda pra Deus nenhum

olho ele vazar como minha sujeira
e tudo parece sujo demais em volta de mim

nunca vai embora
fica comigo
porque esse sou eu
e de novo ficamos nos segurando
porque um abraço é mais gostoso
que o medo que nos ronda por aqui

vejo vazar e me engano que sou eu

se eu pudesse mudar o mundo
eu acabaria com ele
e se as crianças suplicassem
explicaria que não gostariam de existir

adotaria que tudo é ruim
porque aqui é ruim
toda luz vai embora
enquanto eu sou a sombra
e um império de sombra
me adota como imperador disso aqui

que roda
e gira
e satisfaz
o relógio
que roda
e gira
e satisfaz

o tempo
que não existe
e nos prendeu aqui

pequenas memórias me observando
e me rindo enquanto eu tento de novo

vai vazar ou vai pingar?
que sujeira que a gente preparou hoje?

separo bem e mal como o que eu já sei
pequenas memórias
fazendo funcionar esses programas
e me justificando dentro de mim

esse homem não tem um coração
mas gostaria de ter
e se tivesse
não o gostaria

é algum tipo de química que não conheço
um turista que usa roupas engraçadas
uma mistura entre majestade e escória
como alerta vermelho e um dia recorrente de verão
um dia ensolarado e uma medalha de plástico
um parabéns quatro meses atrasado
e a natureza não ligando pra quantos anos eu já fiz

ah, vida, me perdoe
mas acredito que uma hora as estrelas me encontram
e isso se explica sem dúvidas

sem dúvidas
tudo se acerta em abraços e beijos
beijos molhados com línguas duras
um sonho em um pesadelo
mas eu comigo mesmo
eu e a cura pra isso

minha melodia sem som
que não acaba e desce
como outro sonho
que se emenda em outro