segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Oi, amor

- Oi, amor.
- Ah...
Ela me acordou acariciando meu rosto. Minha ressaca era tanta que eu estava prestes a vomitar ali mesmo, na nossa cama. Minha cabeça sendo marteladas pelo meu coração batendo. Eu precisava vomitar.
- Você tá bem?
- Puta... Acho que eu vou morrer...
- A ressaca tá braba?
- Braba é pouco!
- Eu também to ruim. Vomite, você vai ficar melhor.
- Odeio vomitar.
- Tá, vou pegar um analgésico e um remédio prá você não vomitar.
- Por favor.
Eu adormeci. A melhor receita contra a ressaca é dormir. Eu sei, uma hora você vai acordar e a ressaca vai estar lá. Mas, porra, dormir é uma coisa simplesmente sensacional. A maior invenção do homem foi a cama. É, eu dormi. Ela me acordou de novo, daquele mesmo jeito carinhoso dela. Isso me irritava, as vezes. Ela não podia me acordar com uma chupeta? Ou quem sabe com um tapa na cara? Um balde de água fria, talvez? A real é que ela era meio mole, cheia desses romantismos baratos. E no fim eu tava ficando assim também.
- Oi, amor.
- Ah...
- Tó o teu remédio. A água tá geladíssima, você vai gostar.
- Água, que delícia!
- Eu vou tomar banho. Dorme mais um pouco, daí você toma o teu banho.
E instantâneamente eu dormi. Eu tinha tomado o remédio para a náusea, acabei esquecendo do analgésico. Talvez o dia inteiro tenha passado, ou só 20 minutos.
Lá estava ela, nua e molhada. Com os olhos vermelhos, o pescoço vermelho, as olheiras gigantes avançando às bochechas, como um deserto avançando ao descampado.
- Você tá bem?
- Mais ou menos. Acho que vou dormir.
- Deita aí.
- Vai tomar banho. Estou com fome.
- Ok. Melhore, tá?
E daí sim, o dia inteiro passou. Ou só uns 30 minutos. Cheguei no quarto e lá estava ela. Nua e molhada. Branca como a neve. Gelada como a neve.
- Você tá bem?
Toquei nela, tentei acordá-la, virei-a. E deitada inerte, ela dormia, sem ao menos respirar. Abri os olhos dela e eles estavam fixos no teto, como se conseguissem ver o céu, as núvens, Deus. E os olhos ficaram abertos, libertando uma alma pecadora, porém feliz.
Vomitei no chão. Parecia que o remédio não surtira efeito.
- ACORDA! MEU, LEVANTA! Por favor... acorda... acorda...
E eu desisti. Deitei ao lado dela e esperei a vida passar.