terça-feira, 9 de novembro de 2010

Embriaguez

Eu nunca escrevi bêbado, mas porque não a tentativa? Bukowski escrevia bêbado. Muita gente vive bêbado. Acho que há um certo glamour nos vícios. Acho que há charme no alcoólatra. Acho que há charme no fumante. Eu fumaria, caso suportasse o gosto nojento do tabaco na minha boca. Eu fumaria, caso não tivesse problemas de infância com cigarros. Acho vícios bonitos, pois vícios deixam as pessoas mais humanas. Elas tentam se tornar deuses sem comer carne, ou tentando ser celibatários, ou fingindo ser boas. Mas todas elas são assassinas e hipócritas. Os vícios tiram essa maldade das pessoas, as tornam pessoas de verdade.
Pois enfim, vim declarar meu ódio ao amor, pois é o melhor que eu posso escrever. Talvez seja um vício, como o álcool ou como o sexo ou como outro vício qualquer. O amor é lindo, desde que se esteja de olhos fechados. Eu, de olhos fechados, tocando suas pernas finas, sentindo seus pêlos curtos e loiros, enquanto você sorri lindamente. Eu sei que você sorri. Meus olhos fechados conseguem sentir seus lábios acanhados se abrindo. Você toda se abre. Seus lábios, suas pernas, seu sexo, seu coração. Todos abertos para mais um salto às cegas. Você e todo mundo, prontos à coleção de dores e inconveniências. O amor serve para esses sofredores que não temem o sofrimento. O amor não me serve. Prefiro a solidão e meu cheiro e minhas manias. Sem cheiros e manias alheias. Sem amor ou sentimento. Sem a porra do sorriso alheio, só o meu. O amor acaba conosco e nos faz otários solitários. E vivo eu, sozinho, mas não otário, pelo menos assim penso eu. O amor como todas as armas me furando. O amor como um multirão de comunistas em prol duma utopia maior. O amor como milhões de anos de inexistência. O amor mais tolo. A infantilidade nos nossos corações. A dor nos nossos corações.
E o sexo, que se foda. O importante, é amar. Eu espero que nos encontremos no final, como as rugas encontram todo mundo. E dançaremos de novo, e de novo e de novo.