sexta-feira, 6 de maio de 2011

Dando nome aos bois

Eu e o meu cabelo curto e a minha barba por fazer e a minha barriga flácida e o meu pau entediado e o meu coração ressentido descobrimos que o amor não é divino. Desde sempre, o amor me foi uma utopia inalcançável. Vivi um grande amor certa vez, então reservei esse título à essa ocasião: a única mulher que amei. Que bobeira.
Meu primeiro amor se chamava Marcela. Ela era maior que eu, talvez mais velha, cabelos pretos cacheados, um pouco gordinha. A mãe dela, num dia qualquer, pediu ao meu pai que nosso amor fosse acabado, pois a filha dela não parava de chamar meu nome enquanto estávamos longe um do outro. Meu pai ficou perpléxo, afinal eu e Marcela tinhamos dois anos de idade.
Lembro que amei a Érica, mas não consigo lembrar seu rosto. Só lembro dos óculos e do cabelo cor de mel liso. Nós nos amávamos nos recreios, escondidos atrás da casa de bonecas do colégio. Tinhamos menos de seis anos. Nessa mesma época, uma garota chamada Lourene me amava. Me amava intensa e assustadoramente. Ela odiava a Érica, mas a Érica não lhe dava bola. Certo dia, Lourene trancou a porta da casa de bonecas, eu e ela lá dentro. Eu tinha medo, ela tinha malícia. Me deu uns beijos malandros e ficou por isso, a partir desse dia passei a ver a calcinha dela todos os dias.
Já com uns onze anos, me apaixonei pela Jamile. A Jami era uma garota extraordinariamente linda. Cabelos negros e olhos verdes, a combinação mais bela possível. Nós crescemos juntos e eu vivia o mais dolorido amor platônico. Segunda-feira era o pior dia da minha vida, pois era como se o nosso relacionamento começasse do zero, para na sexta-feira eu achar que dali a pouco estariamos casados. Mas segunda-feira acontecia toda semana. Nós perdemos contato, ela engravidou, tem uma filha tão bela quanto ela.

Amei tantas garotas que, se eu fosse contar de todas elas, precisava escrever um livro. E a premissa: o amor é grandioso, caiu. Não amei apenas uma vez, mas uma centena de vezes. O amor, que me era um Deus, agora não me passa de um humor barato.
C'est l'amour, c'est la merd.